Quando as flechas passaram zunindo por
sobre as cabeças das primeiras fileiras, a multidão gritou de felicidade; como
pássaros elas voaram pela planície e atingiram inimigos que avançavam, homens
tombaram, mas outros passavam por eles e continuavam a marcha rumo ao combate.
Onri mantinha-se em um pequeno pelotão
acampado no flanco leste e olhava para as colinas atrás de si, havia estado com
Alcibíades no grande confronto naval de Siracusa e por vezes contemplara toda a
brutalidade dos exércitos espartanos, presenciou o terrível dia em que a
poderosa frota de Atenas caiu, mas isso era passado e agora teria de fazer o
melhor que pudesse para que essa batalha tomasse outro rumo.
_ Hebreu!_ gritou um dos soldados._ Lá vêm
os espartanos.
Nas primeiras fileiras os soldados de
Lisandro já demonstravam toda a fúria que os caracterizava em batalha; lanças,
espadas e escudos reluzindo ao toque do sol da tarde. Onri olhou para o outro
flanco onde o próprio Alcibíades combateria, ouviu-se a voz erguendo o clamor
para que todos os soldados se preparassem.
“Nesse local o golpe do martelo será mais
forte”_ pensou.
Um dos homens veio cavalgando a frente das
filas gritando palavras de ordem e incentivo; os combatentes respondiam com
gritos que soavam como afronta aos ouvidos espartanos.
_De onde vens tu?_ indagou um dos homens,
e continuou._ E verdade que não consideras
a grande senhora Atena, como pois poderá
lutar em seus exércitos para nos ajudar?
_ Sou hebreu; e tu não deves se preocupar
comigo, pois luto do seu lado, preocupa-te com Lisandro, as forças de Esparta e
os príncipes do mal que o acompanham._ Respondeu empunhando a espada que trazia
consigo.
O cavaleiro passou novamente e partiu na
frente dos soldados; aquela não era a batalha mais importante do conflito pela
retomada de Bizâncio, a cidade, mas quem vencesse tal confronto teria uma
vantagem e tanto sobre o rival. Esparta não queria perder esse ponto e Atenas
precisava retomá-lo para que suas pretensões de vencer a guerra contra a liga
do Peloponeso se concretizassem.
Quando os exércitos se cruzaram e o rugido
do entrechoque das armas subiu até os céus, Onri passava pelo meio dos
espartanos com a força de uma ventania arrastando consigo o máximo de inimigos
que seus golpes podiam derrubar; embora o exército da liga de Delos liderada pelas
tropas da Cidade-estado de Atenas não estivesse preparado totalmente para o
combate corpo a corpo contra os brutais espartanos, cada vez que um dos homens
conseguia ver a força de vontade quase sobre-humana que aquele hebreu fazia
para derrubar os inimigos, isso os motivava cada vez mais.
Onri abria espaço entre a multidão a
golpes de espada e lança, que pegou das mãos do primeiro espartano que
derrubou; o exército de Delos o seguia como o cabo segue a ponta da flecha. Em
sua mente a guerra só terminaria se o general Lisandro tombasse, e era isso que
ele queria fazer, mas em certa altura a resistência do inimigo foi tão bem
armada que as forças atacantes começaram a se deter por tempo demais.
Alcibíades e outros generais estrategistas
atenienses ao longe contemplavam o que a batalha apresentava e planejavam os
próximos passos, finalmente os ventos da vitória sopravam a seu favor,
principalmente depois do desastre em Siracusa.
“Quem é aquele que avança contra os
espartanos sem tomar conhecimento de quem são?”_
Perguntou um dos generais políticos.
A resposta foi algo no mínimo inusitado,
mas foi aceita porque estava trazendo vantagem na batalha:
_Aquele homem vem das terras dos hebreus,
cujas histórias dizem ser seu pai alguém vindo do céu, um emissário do Deus
único a quem eles servem.
“Aquiles retornou para ajudar os
atenienses”_ Chegaram a pensar os homens, tamanha era a bravura e precisão
demonstrada pelo hebreu.
Os movimentos da lança explodiam contra os
escudos de bronze e arremessava aquele que escondia-se atrás dele ao chão, Onri
se movia tão rápido que quando as lâminas dos inimigos chegavam ao lugar onde
estava só achavam o ar, e tanto atenienses quanto espartanos, ao menos os que
travavam aquela árdua batalha pensavam quando o viam em ação que não era um
homem normal.
Um mensageiro cavalgando com grande
velocidade subiu a colina até a presença de seu general.
_ Senhor_ disse ele_ Há entre os
atenienses um homem de grande valor, que faz com que a balança da batalha
favoreça-os.
Lisandro já sabia de antemão o que estava
ocorrendo, e mais do que isso; sentia-o em movimento.
“Cavaleiros”_ disse em voz baixa.
O próprio Lisandro estava sobre um belo
cavalo revestido com proteções e de sobre a colina visualizava como as tropas
se manifestavam. O ruído das armas confrontando-se chegava alto e claro aos
ouvidos do comando de ambas a partes e como se estivessem cavalgando Pégasos
vieram as guarnições montadas, imprimindo velocidade e fúria nos animais,
rasgavam o vento na direção da batalha.
Alguns dos soldados da Liga marítima ao
ver os grandes cavalos espartanos derrubando homens em todas as partes
recuaram, mas não Onri, que a certa altura do combate explodiu suas armas
contra os escudos de vários inimigos ao mesmo tempo perdendo-as
definitivamente, então num ato de ousadia e heroísmo, ou loucura, agarrou-se
com as mãos nuas contra os cavalos derrubando seus cavaleiros.
Aquele fato minou a confiança das tropas
de Lisandro e aumentou a dos Atenienses, o próprio Alcibíades ao ver aquilo
cavalgou para o centro do combate, assim as tropas o seguiram em mais uma
investida que finalmente deu inicio a retomada de Bizâncio.
Anos depois, essa curta história de
batalha se perdeu, pois só quem estava lá havia visto Onri, o
estrangeiro, contra os espartanos. Chegaram a escrever sobre seus feitos não
apenas naquela batalha, mas em muitas outras, porém todos esses escritos se
perderam, exceto este.
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