A criação de um personagem principal exige atenção redobrada do escritor ao desenvolver sua trama, a ponto de muitas vezes um personagem ser capaz de segurar os leitores mesmo quando uma trama não é tão boa assim.
Muitos autores acham que escrever um livro é simplesmente contar um relato em que um determinado personagem faz as coisas e pronto, mas isso não costuma funcionar e tem como resultado livros que não conseguem atingir seus leitores da forma correta. Escritores que pensam deste modo costuma apresentar em seus livros personagens sem muita profundidade ou carisma e isso é a fórmula para que seu livro fracasse. A magia de um livro bem escrito passa pela técnica da verossimilhança e no desenvolvimento de seu personagem principal, sobretudo, não é diferente.
Mas o que seria isso, verossimilhança?
Muito simples. Verossimilhança é a arte de tornar seu personagem o mais próximo possível da realidade a ponto de realidade e ficção se confundirem. Alguns autores famosos ou anônimos conseguiram aplicar esta técnica com tanta maestria que ainda hoje temos dificuldade de saber se os fatos descritos nos livros são reais ou não; quem não conhece a história do Rei Artur, por exemplo, ou Rômulo e Remo que teriam sido os fundadores de Roma, descendentes diretos de Eneias que por sua vez é um personagem da Ilíada de Homero. Em ambos os casos realidade e ficção caminham muito juntas e, às vezes é até difícil de separá-las. Mas estes são dois casos extremos que citei apenas para fixar essa ideia sem sua mente.
É óbvio que você não precisa alcançar um grau tão elevado de verossimilhança em seu personagem; porém, quanto mais verossímil seu personagem for, mais ele vai cativar seu leitor.
Então você deve estar pensando: Como faço para tornar meus personagens principais mais verossímeis?
Uma forma simples de fazer isso é mapear seu personagem como se ele fosse uma pessoa real, e fazemos isso respondendo a sete perguntas simples que listo a seguir:
1: Qual é o nome do seu personagem?
Parece óbvio que seu personagem precisa de um nome, portanto que seja essa a primeira coisa que você vai pensar a respeito dele. A dica aqui é: Não dê apenas um nome para ele, mas sim, pense em um sobrenome completo, mesmo que isso seja mostrado apenas uma vez em todo o livro. Se possível explore os traços genealógicos da família dele, mesmo que superficialmente. Fazer isso dará individualidade ao seu personagem, enquanto que, por outro lado, pensar apenas em um nome o fará apenas mais um. Lembre-se, utilize a verossimilhança. Pessoas reais possuem nomes completos e para aproximar seu personagem da realidade, ele também deve ter....
2: Qual é a idade da personagem?
Nem sempre é preciso, no meio da trama, dizer claramente qual é a idade do personagem principal. Alguns autores apenas posicionam seus personagens principais dentro de uma faixa etária que vai de X até Y anos; ou seja, se você está escrevendo um romance com temática adolescente, por exemplo, é recomendável que seu personagem esteja posicionado dentro de uma faixa etária equivalente, pois isso vai lhe mostrar que conteúdos explorar (conteúdo adolescente, no caso), além de gerar mais facilmente identificação com os leitores.
Já se seu livro é para jovens e ou adultos a idade pode variar ou até mesmo ter uma idade específica. De qualquer forma determinar uma idade ou uma faixa de idade vai lhe dar clareza de algumas coisas sobre seu personagem que podem ser desenvolvidas mais a fundo dentro da trama.
3: O que seu personagem faz da vida?
Seu personagem trabalha, estuda ou faz os dois?
Se trabalha, em que trabalha? Ele gosta do trabalho? Como é a relação com os colegas de trabalho? quais os planos dele em relação ao trabalho?
Se estuda, o que ele estuda? Ou, para que estuda? Para ser médico, advogado, criador de uma Startup etc...
Você pode abordar estas questões superficialmente e introduzi-las sutilmente no decorrer da trama para montar na cabeça do leitor uma sensação de realidade; isso vai ajudar na ilusão da verossimilhança e pode criar simpatia do leitor pelo personagem, porque muitas vezes quem está lendo o livro pode até se enxergar no na pele do personagem por já ter passado por situações parecidas na escola, faculdade ou trabalho.
4: Qual é a personalidade do seu personagem?
Traçar a personalidade vai lhe dar condições de pisar em terreno mais firme durante o desenvolvimento do seu enredo, isso evitará que seu personagem fique todo o tempo à deriva entre emoções e lhe ajudará a pensar com mais foco em que reações seu personagens desempenhará, baseando-se, claro, no tipo de personalidade que você determinou antecipadamente para ele.
Para citar um exemplo: Quando eu estava escrevendo meu livro Érebus eu determinei que o personagem principal "Ângelo" seria um jovem ligeiramente tímido, comedido em suas palavras e atos, observador, calmo e centrado. Isso me facilitou bastante no desenrolar da trama; criar este personagem foi uma tarefa que fluiu com bastante naturalidade e tudo isso porque eu já avia antecipado que tipo de personalidade ele teria.
5: Quais são os gostos e preferências deste personagem?
O que seu personagem gosta de fazer? Viajar, escrever, navegar na internet, paquerar praticar esportes, etc...
Determinar isso vai lhe ajudar a construir cenas com situações que podem ser um respiro entre um capítulo e outro, ou mesmo uma pausa nos acontecimentos frenéticos e na ação. Uma dica aqui é: aprenda a não bombardear seu leitor o tempo todo, deixe-o assimilar o que está lendo e então apresente mais.
Além disso, determinar gostos e preferencias vai ajudar a caminhar dentro da trama apresentando uma gama enorme de possibilidades de cenas de ligação.
6: Seu personagem possui uma grande virtude? Ou um grande vício?
Quando criamos um personagem que será o centro de nossa trama, temos, muitas vezes, a tendência de sobrecarregá-lo com inúmeras virtudes; quase que querendo que ele seja perfeito. Não faça isso, procure se policiar. Entretanto, é interessante que seu personagem possua uma grande virtude. Fazendo isso você terá bastante material para usar em algumas cenas explorando alguns dilemas gerados em decorrência de sua virtude com o cenário e os outros personagens ao redor dele.
Da mesma forma um grande vício também gera muito material pra ser utilizado, chegando muitas vezes até superar em preferência dos leitores, os personagens que possuem grandes virtudes. Desenvolver uma destas duas características vai dar, com certeza, mais profundidade ao seu personagem.
7: Qual é a índole de seu personagem?
Nem todo personagem central de um livro é um Herói; alguns são os chamados Anti-heróis e há alguns até que são vilões mesmo. Na literatura não existe certo ou errado quanto a índole do personagem, mas trace isso antecipadamente e seja fiel a ela, porque personagens com índoles duvidosas podem gerar confusão nos leitores e até mesmo criar problemas para o autor quando estiver tentando encaixar as peças que vão compor a trama do livro e a conexão da mesma com o personagem central.
É óbvio que estas perguntas não são absolutas, você não precisa responder todas dependendo do tipo de livro que está escrevendo, se for uma ficção steampunk, por exemplo, é provável que quase nada disso se aplique; use o bom senso; mas para a maioria das tramas que se passam na nossa linha de tempo creio que estas perguntas podem auxiliar, e muito, na criação mais bem elaborada de um personagem principal que vai cativar seus leitores. Funcionou para mim e acredito que pode funcionar para você também.
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