Quando eu decidi começar como escritor, havia uma grande vontade dentro
de mim, que era possuir uma estante enorme repleta de livros no meu quarto. Eu
queria colocar todos os livros que mais gostava nas prateleiras desta estante,
assim como vários outros dos meus autores favoritos. Logo que pude comecei
minha coleção, comprando todos os livros de todos os autores que eu desejava
ler; depois de alguns meses já havia uma quantidade considerável de títulos nas
prateleiras do meu quarto, olhar aquela coleção magnífica era algo
que me alegrava, orgulhava e, de alguma forma, me ajudava a lembrar do meu desejo de
escrever os meus próprios livros. Porém algo aconteceu.
Depois de alguns anos comprando e colecionando livros eu finalmente
possuía a estante com as prateleiras apinhadas de títulos tanto de escritores
internacionais quanto nacionais; meu quarto já não comportava o grande número
de volumes que eu possuía e minha lista de livros para ler não parava de
crescer. Além de comprar os livros, eu precisava gastar tempo e energia para
limpá-los devidamente e manter todos com uma aparência minimamente organizada.
Foi então que algo me ocorreu, certo fim de semana quando eu me preparava para
começar uma grande limpeza na minha estante, percebi que livros não são apenas
objetos comuns como outros quaisquer, livros são criaturas mágicas, são seres
capazes de encantar, contar todo tipo de histórias e transmitir conhecimento,
eles são como os pássaros, não foram criados para permanecer presos a
prateleiras ou dentro de baús juntando poeira; os livros foram criados para
serem lidos criando um círculo virtuoso de transmissão de conhecimento e
fantasia que não deve ser interrompido.
E como isso acontece?
Toda vez que deixamos um livro parado por meses ou anos, estamos, na
verdade, aprisionando tudo o que está dentro dele e impedindo que alguém mais
leia e se beneficie tanto do conteúdo quanto dos outros benefícios do hábito da
leitura. E isso é impedir os livros de cumprirem sua missão.
A partir daquele momento decidi que não faria mais isso, não manteria os
livros aprisionados nas prateleiras do meu quarto, pelo contrário, eu
encontraria outras pessoas para lê-los. Assim eu fiz; sempre que termino de ler
um livro eu encontro algum outro leitor para ele e passo para frente, desta
forma aquele meu antigo desejo de ter cada vez mais livros empilhados no meu quarto em
prateleiras de uma estante pareceu ser algo de extrema vaidade e egoísmo,
assim sendo, meu desejo se transformou e agora é não ter mais do que uns poucos
livros entre cinco e dez no máximo, os meus preferidos. Pra ser bem sincero, não sei se esse tipo
de pensamento faz qualquer sentido para outras pessoas, mas sempre que compro
um livro físico e termino de ler, faço a mim mesmo a seguinte pergunta: “este
livro está entre os dez melhores que eu já li?” Se a resposta for positiva eu o
coloco em um pequeno espaço reservado em meu quarto para os dez livros que
mudaram minha vida; mas se a resposta for negativa, mesmo sendo um livro muito bom, eu encontrarei outro leitor
e farei com que aquele livro continue sua missão que é alcançar o maior número
de pessoas que puder e nunca parar de circular, pois como escritor, minha função também é compartilhar fantasia e ficção, mesmo que não tenham sido criadas por mim, pois elas podem inspirar outras pessoas e até mesmo mudar suas vidas.
Nem sempre, responder aquela pergunta crucial é fácil para mim, pois
quantos e quantos livros magníficos de autores extraordinários já passaram
pelas minhas mãos, mas seu conteúdo era tão bom que não tive coragem de
guarda-los comigo, tive de deixá-los seguir em frente por mais que desejasse
permanecer com eles só pra mim.
Então você pode perguntar: Quer dizer que você não fica mais com nenhum
dos livros que compra?
A resposta é a seguinte: De todos os livros físicos que ainda compro, eu
sempre faço da forma que expliquei no texto acima, possuo comigo apenas uma
lista muito restrita de títulos de excelência absurda e nesta lista reduzida há
livros de romance diversos, desenvolvimento pessoal e espiritual. Entretanto,
quando compro livros digitais, não há como doá-los depois, ao menos por agora,
então mantenho uma biblioteca digital que não ocupa qualquer espaço físico na
minha casa, não acumula poeira e ainda pode ser transportada sem qualquer esforço para onde quer
que eu vá.
O que desejo compartilhar neste texto é que livros não são apenas objetos inanimado, eles são seres, e como tal devem permanecer em liberdade sempre de mão em mão, de leitor em leitor, para que o máximo de pessoas consiga ter contato com suas histórias, tramas, conhecimento e sabedoria. O lugar dos livros não é juntando poeira em prateleiras ou esquecidos em tantos outros cômodos das casas. Se você tem livros que nunca mais leu, passe-os para alguém que queira ler.